Figurado de Barcelos
brinquedos que ganharam alma
As primeiras pequenas figuras de barro de Barcelos, obras simbólicas fundamentais da cultura portuguesa, nasceram dos restos de barro das olarias, nos apertados espaços que sobravam nos fornos. Eram brinquedos criados para divertir, representando pessoas e animais, muitas vezes com um apito ou instrumentos musicais como gaitas, ocarinas, rouxinóis e cucos. Com o passar do tempo, o figurado ganhou vida, relevância e características próprias, evoluindo para uma atividade artística autónoma capaz de capturar, com a arte, o quotidiano, a imaginação religiosa, o mundo fantástico e as lendas do povo português.
O início da produção do figurado tem raízes antigas e imprecisas. A sua primeira referência remonta ao século XVI, com uma possível menção do Frei Bartolomeu dos Mártires durante o Concílio de Trento. Em meados do século XX, estas figuras passaram a ser reconhecidas e desejadas por públicos variados, graças ao trabalho imaginativo de Rosa Ramalho, que misturava o profano com o sagrado nas peças que produzia.
No fim dos anos 50, os artefactos de barro tornaram-se ainda mais valorizados e passaram a ser assinadas pelos seus criadores, transformando-se em objetos de arte. Foi então que os antigos brinquedos ganharam nova estatura e finalidade. Começaram a ser criadas peças com mais de 20 cm, ocas, feitas com novas técnicas e adaptadas a temas contemporâneos. O uso de moldes ou de bases levantadas nas rodas de oleiros tornou-se comum. As peças pintadas e vidradas a transparente no século XIX foram substituídas por outras banhadas em cores vivas de esmaltes cerâmicos e tintas acrílicas à base de água.
Certificado em 2008, o figurado de Barcelos destacou-se como a única arte cerâmica com certificação em Portugal durante uma década. Em 2017, foi responsável por Barcelos conquistar o título de Cidade Criativa da UNESCO, na categoria Artesanato e Arte Popular. Em 2021, os bonecos minhotos ganharam nova casa na Rua de São Nicolau, em Lisboa: a primeira loja dedicada unicamente ao figurado de Barcelos em Portugal, pertencente ao Grupo Valor do Tempo.
Do galo encantado e do músico animado ao animal monstruoso com língua de fora, as peças do artesanato de Barcelos têm vida própria, pois carregam, além das assinaturas, pedaços da alma de seus artesãos. Estas figuras transportam quem as admira ao mundo fantástico da cultura portuguesa, cheio de cores e de inspiração, onde a tradição é adornada, diariamente, com criatividade e paixão.