Fernanda Novo
as histórias do mar na alma e na arte
Texto e imagens: Ana VascoA história de Fernanda Novo, como a das camisolas poveiras que ela produz, nasce no mar. Neta de pescadores e de negociantes de peixe, carrega o orgulho de vir de uma família com siglas poveiras e de ser uma continuadora das tradições mais antigas. Todo o conhecimento que adquiriu não guarda para si: Fernanda é uma formadora generosa, dedicada a ensinar técnicas e a transmitir, às novas gerações, a paixão pelo artesanato e pela cultura da Póvoa de Varzim.
As primeiras ondas
Fernanda entrou no mundo do artesanato muito cedo, influenciada por suas tias e avó, que tricotavam e faziam meias para os homens levarem para o mar. Muito curiosa, gostava de se sentar com elas após as aulas para aprender. Aos 13 anos, iniciou a sua carreira formal numa loja de pronto-a-vestir e, durante toda a juventude, transitou por diversos segmentos relacionados com a moda e a decoração. Após casar, abriu uma pastelaria com o marido, onde começou a vender os seus produtos feitos à mão, como pantufas, gorros, meias, presépios, bolas de Natal, sinos, carteiras e outros objetos com as siglas poveiras.
Barco à bolina
Diante de ventos contrários e de grandes desafios pessoais – um AVC isquémico e a pandemia de COVID-19, que a forçaram a fechar a pastelaria –, Fernanda Novo, como um barco à bolina, que precisa fazer uma série de manobras para avançar, teve a estratégia e a paciência para lidar com as adversidades. Criou a marca “Artes da Poveira” e passou a dedicar-se exclusivamente ao artesanato.
Por ser uma artesã habilidosa, que sabia tricotar e fazer os desenhos básicos, foi convidada a dar cursos de camisola poveira mesmo sem ter feito a sua primeira peça. Com algumas amigas experientes, aprendeu rapidamente a seguir as bases para a confeção da camisola e começou a ensinar. Desde então, várias camisolas poveiras foram produzidas por ela. A certificação veio logo em seguida, como um importante reconhecimento do seu trabalho.
A singrar no mar
Além de participar em muitas feiras, Fernanda tem uma forte presença online e uma capacidade incomparável de criar conexões emocionais com os seus clientes. Ela valoriza muito as interações e destaca-se por personalizar todo o processo de criação das peças, considerar as preferências, documentar cada etapa, partilhar o progresso das produções e saber fortalecer o laço entre os clientes e a cultura poveira. “Quando recebem, sentem uma alegria imensa. Um cliente de Lisboa, por exemplo, não resistiu e vestiu a camisola poveira no posto dos CTT, logo ao levantá-la. Pediu às funcionárias para tirar fotos e enviou-mas, dizendo: ‘Dona Fernanda, estava mortinho para recebê-la!’. É um orgulho muito grande!”, conta, entusiasmada.
Mas como experiente navegadora das artes, Fernanda sabe que o mar raramente se acalma para a passagem de grandes embarcações. À semelhança de Santiago, a personagem de “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway, ela enfrenta com determinação os desafios do tempo, as perdas significativas, a exaustão e as complexidades do trabalho artesanal. Fernanda acredita que o futuro do artesanato depende de uma nova perceção e valorização pelas novas gerações e que o seu trabalho como formadora é essencial – representa o barco que transporta coragem e arte e que continuará a navegar para manter viva a tradição.