Ricardo Fonseca
a arte de inovar sem perder as suas raízes
Texto e imagens: Ana VascoA história profissional de Ricardo Fonseca, o mais jovem mestre na arte dos bonecos de Estremoz, teve início precocemente. Desde criança, ele já sentia uma forte atração e muito respeito pelo ofício das suas tias, as Irmãs Flores: Maria Inácia Fonseca, que se tornou bonequeira em 1972, e Perpétua Sousa, que atua na criação dos bonecos desde 1976, ambas aprendizes da mestre Sabina Santos. As brincadeiras com o barro, que arrancaram durante as férias de verão, evoluíram gradualmente para algo mais sério, um verdadeiro propósito de vida.
Origens
Adolescente ainda, Ricardo iniciou a comercialização das suas primeiras peças. Após concluir o ensino secundário, decidiu dedicar-se inteiramente ao artesanato. Nas suas obras, destacam-se as representações religiosas e de profissões e, de forma ainda mais notável, o presépio tradicional e a figura da Rainha Santa Isabel, personalidade histórica intimamente ligada a Estremoz. Esta última ultrapassa frequentemente o estatuto de mera peça artística, assumindo-se como um símbolo da identidade local e do percurso pessoal de Ricardo, revelando o laço profundo entre o artesão, as suas obras e a sua comunidade.
No Ateliê
Atualmente, este mestre dos bonecos é reconhecido pelo seu compromisso dedicado à preservação das técnicas e estéticas tradicionais. No ateliê que partilha com as suas tias, as mãos de Ricardo dedicam-se, incansavelmente, a moldar e a vestir os bonecos com delicados detalhes, conferindo-lhes vida e história. A grande mesa comum é um mosaico vivo de frascos de tintas, peças inacabadas, ferramentas variadas e diversos pincéis – um cenário onde as figuras nascem sobre o princípio de que a experiência e a criatividade são pilares da criação. Embora Ricardo Fonseca perceba a importância das redes sociais para a divulgação do seu trabalho, a comercialização das suas obras se realiza, principalmente, por meio de encomendas, na loja física. Devido à produção limitada e ao desejo de manter a qualidade e a atenção a cada detalhe, todas as peças deste barrista nascem como um exemplar único, com alta qualidade. A inclusão dos bonecos de Estremoz na lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2017, seguida pela certificação em 2018, não alterou significativamente os preços das peças, mas reforçou o valor do trabalho desenvolvido por Ricardo. Esses reconhecimentos internacionais também dão ênfase à importância cultural e artística de sua obra. Contudo, o artesão mantém-se firme na crença de que a verdadeira qualidade de suas criações não se apoia em certificados, mas no cuidado e na habilidade aplicados em cada peça. Assim, ele continua a honrar a tradição, ao mesmo tempo em que imprime o seu próprio selo de originalidade e excelência ao legado dos bonecos de Estremoz.
Horizontes
Na perspetiva de Ricardo, o futuro do artesanato em Portugal depende do interesse e do apreço das novas gerações. No entanto, este barrista conserva-se otimista, por notar um crescente reconhecimento dos jovens pela tradição em Estremoz. Ele acredita que é esta conexão entre o passado e o futuro, a inovação e a tradição, que fundamentará a continuidade e a prosperidade do artesanato. Ricardo Fonseca, com as suas mãos mágicas e a sua história, não se limita a preservar um legado; ele está, de facto, a esculpir uma cultura rica e vibrante, entrelaçando o barro e a identidade de uma comunidade com cada peça que cria. Os bonecos feitos por Ricardo honram as tradições ancestrais e também as revitalizam. Eles são expressões vivas da história e dos valores partilhados pelos portugueses.