Isabel Catarrilhas Pires

Isabel Pires

a artista que molda vida ao barro em Estremoz

Começa-se pelo barro

A ascendência espanhola, por parte materna, é vista por Isabel como a razão de sua personalidade comunicativa. Nascida com a alma de artista, em Vila Boim (Elvas), Isabel Pires sempre soube que o seu destino seria criar. Após concluir o ensino secundário, tinha planos de ingressar na Escola de Arte António Arroio, mas o destino interveio, levando-a para outra direção. Casou-se e, para acompanhar o marido, mudou-se para Estremoz, onde decidiu dedicar-se inteiramente ao que amava. Foi através de visitas a museus e de um aprendizado autodidata que Isabel Pires mergulhou no universo dos bonecos de barro, começando a esculpir o seu percurso artístico com um forno a lenha que ela própria construiu.
Pouco depois, Isabel Pires comprou uma mufla e começou a vender os seus bonecos de Estremoz por todo o país, encantando diversos colecionadores. Para a artesã, cada peça que produz é única, um reflexo de sua paixão e do seu talento inato para a criação. Ela orgulha-se de não usar moldes e de nunca ter replicado uma peça exatamente igual a outra. O seu trabalho distingue-se pela técnica apurada e pela essência única que cada boneco transmite, uma característica altamente valorizada pelos colecionadores.

Monta-se o Boneco

Isabel Pires descreve o seu processo criativo como uma jornada intensa, que vai desde a modelagem das caras até à pintura final das peças. Ela evita quantificar exatamente as suas horas de trabalho diário, porque a sua rotina é irregular. Protetora zelosa das suas criações, domina todas as etapas do processo e gosta de criar em fases cada um dos pormenores, conforme a sua disposição e inspiração diária. Cada elemento é meticulosamente guardado em sua própria caixinha, onde aguarda o momento perfeito para ser utilizado. A artesã também faz questão de frisar que ninguém, além dela, participa na produção dos seus bonecos e reitera: “As peças são minhas, faço-as para mim”. Isto explica a marca de qualidade e a singularidade das suas obras.
Outra característica distintiva do trabalho da artesã é a criatividade. Isabel prima por criar peças distintas das mais conhecidas, como o “Outono”, que faz um contraponto com a tradicional peça “Primavera”, os “Pastores de Capote” e as “Ceifeiras”. Para ela, não há limites na capacidade de inovar, no uso de cores inéditas e na criação de histórias por trás de cada peça.

Vende-se e Eterniza-se

Possuir uma peça confecionada por Isabel Pires constitui um privilégio. Ao longo do tempo, o valor atribuído ao seu trabalho tem aumentado e a definição dos preços de cada peça, baseada na avaliação do esforço e dedicação despendidos, precisou começar a equilibrar a manutenção de preços acessíveis com o reconhecimento da sua estatura artística. A artesã, no entanto, não obtém fortunas com o trabalho que executa. Ela defende que a verdadeira riqueza advém do prazer de criar e da apreciação de seus clientes.
Embora amplamente reconhecida, Isabel Pires prefere manter-se discreta na internet para proteger as suas ideias. Conta com clientes fiéis, cultivados ao longo dos anos, que realmente apreciam o seu trabalho. Isabel valoriza as redes sociais para promover a sua arte, mas destaca que nada supera o relacionamento direto e pessoal com os compradores das suas peças.
No fim da nossa conversa, Isabel Pires revelou-nos como dá forma às mãos dos bonecos com exímia precisão e meticulosidade. As pequeninas peças de arte refletem com exatidão o vasto legado da artista: rigoroso, repleto de minúcias e subtilezas. Com as suas criações delicadas, Isabel perpetua uma tradição secular, revitalizando a arte dos bonecos de barro com cores, formas e narrativas que capturam a essência do passado e o espírito da modernidade. O verdadeiro legado da artesã ultrapassa as criações tangíveis; reside na inspiração que ela deixa às gerações e na ardente paixão que infunde em cada obra.