A certificação de produtos artesanais é um processo oficial que confirma a origem, a qualidade e a conformidade de um produto com as tradições e técnicas desenvolvidas numa região. Tem como objetivo reconhecer tradições culturais e habilidades ancestrais, incentivar a produção local, preservar o património cultural e proteger contra falsificações. Para serem certificados, os produtos passam por um rigoroso processo de avaliação que inclui análises de qualidade e relevância cultural, para assegurar que cada peça certificada respeita o legado histórico de uma comunidade.

Em Portugal, a A. Certifica é o único Organismo de Certificação de produtos acreditada pelo IPAC. Atualmente, Portugal possui 26 produtos certificados em diversas categorias, como têxteis, cerâmica, joalharia, instrumentos musicais e fibras naturais.

Por envolver a padronização de processos, materiais e técnicas, que devem seguir orientações restritas dos cadernos de especificações, a certificação pode limitar a experimentação e a inovação no artesanato tradicional. No entanto, entendendo o património cultural como um processo em constante evolução, alterado pela perceção de quem o admira, abre-se espaço para uma nova compreensão da tradição. Esta visão dinâmica enfatiza a capacidade que as tradições têm de se adaptarem e se transformarem, refletindo tanto as práticas históricas quanto as inovações contemporâneas e tornando o artesanato um reflexo vivo das mudanças culturais e das novas interpretações que emergem ao longo do tempo.

Normalmente associado ao passado, às técnicas preservadas por uma comunidade e a materiais brutos ou naturais, o artesanato tradicional pode parecer pouco inovador. No entanto, enquanto parte das Indústrias Criativas, o artesanato não está alheio às dinâmicas de mercado e às tendências culturais contemporâneas. Ele é influenciado por padrões de consumo, modas e por uma crescente demanda de produtos sustentáveis e éticos. Além disso, como forma de expressão criativa e elemento do património cultural, transcende a funcionalidade, comunicando tradições, ideias e evocando emoções. Isso implica explorar novas formas, cores e técnicas que possam contar histórias novas ou dar novas perspectivas às antigas, tornando cada criação relevante e ressonante com o público atual.

Nesta plataforma, destacamos como a inovação no artesanato português surge de forma orgânica, onde tradição e criatividade se entrelaçam para dar nova vida ao património cultural. Muitos dos artesãos apresentados aqui reinventam as técnicas tradicionais, trazendo renovação às suas criações. Desde a construção de redes colaborativas, desenvolvidas para criar peças de grande complexidade, até à personalização de produtos que criam ligações emocionais com os clientes, cada artesão encontra formas únicas de inovar. Essas práticas demonstram que a inovação no artesanato pode surgir tanto da cooperação entre talentos diversos quanto da adaptação criativa às necessidades e desejos dos consumidores atuais. É essa capacidade de transformar o familiar em algo surpreendente que mantém o artesanato vivo e vibrante, refletindo as perceções e os interesses de novas gerações e de públicos cada vez mais amplos. Na Ocri, acreditamos que é através das reinterpretações – inclusive as expressas nos nossos textos e imagens – que o artesanato tradicional permanece relevante, conectado ao presente e aberto ao futuro.

Embora os produtos e o saber-fazer sejam preservados por métodos como a certificação, a inovação no artesanato é constante. Ela ocorre não apenas nas mudanças dos produtos em si, mas também nos processos de produção, na gestão do negócio, nas estratégias de comunicação e marketing. Esta plataforma adota uma visão holística em relação à inovação no artesanato tradicional, procura auxiliar artesãos a posicionarem-se ativamente num mercado globalizado e incentiva a colaboração de criativos de diversas áreas para que contribuam com ideias e perspetivas, permitindo que os produtos tradicionais sejam (re)vistos, de forma respeitosa, através de uma lente contemporânea, capaz de inspirar e emocionar as novas gerações.