Geny Seixas
histórias do mar de Ovar na filigrana de prata
Texto e fotos: Ana VascoEugénia Seixas nasceu junto ao mar, em Ovar, terra de homens robustos e mulheres de fibra, figuras forjadas pelas exigências da Arte Xávega, uma prática antiga de pesca onde redes pesadas são puxadas à força das mãos e dos animais nas praias locais. Desde pequena, desviou-se do destino traçado pelos pais, que a queriam ver professora, como as suas duas irmãs. Rebelde como as ondas, aspirava a ser mais: vento forte, tempestade ou pura arte. Sem ainda saber, Eugénia já era uma pescadora de sonhos e inspirações, capaz de manobrar redes complexas, cheias de vida e desejos, tão pesadas que nem os antigos bois das praias de Ovar as conseguiam arrastar. Profissionalmente, optou por ser uma artista da joalharia de autor, que molda, com as delicadas formas da filigrana portuguesa, peças que refletem as profundezas das suas experiências e da sua inquietação pessoal.
As primeiras conchinhas de prata
A trajetória artística de Eugénia Seixas começou no design de moda, onde rapidamente se destacou como estilista, graças ao seu olhar aguçado para os detalhes e os complementos. A paixão por uma estética diferenciada e pela possibilidade de criar peças pequenas, mais expressivas, levou-a ao campo do design de joalharia, onde encontrou a liberdade para exprimir plenamente a sua criatividade. Profundamente influenciada pelo trabalho de Bruno da Rocha, um dos grandes designers de joias de Portugal, Eugénia apaixonou-se pela joalharia de autor, um domínio que envolve frequentemente técnicas orgânicas e fluidas, além de narrativas profundas que emocionam quem as vê, tão semelhantes às suas próprias vivências e à essência do mar.
Eugénia mergulhou no mundo complexo e delicado da filigrana, através de um curso no Centro de Formação Profissional de Ourivesaria e Relojoaria (Cindor), oferecido pela mestre em filigranas Conceição Neves. Dedicada a dominar técnicas que poucos designers de joias se atrevem a desenvolver, com uma sensibilidade poética rara, adotou o nome artístico “Geny Seixas” e passou a incorporar as filigranas em peças contemporâneas que fundem a sua herança cultural com uma personalidade artística única.
As Filigranas de Ovar
Apaixonada por essa nova forma de expressão, em 2022, participou pela primeira vez em uma grande feira, a FIL, em Lisboa, e ficou impressionada com a aceitação positiva. A perceção de sua potencialidade artística levou-a a abrir o seu próprio ateliê de joalharia, no centro de Ovar. Assim, esta terra das artes marítimas, das casas azulejadas, do Carnaval animado e dos pães-de-ló reconhecidos, agregou mais esta tradição: a produção de filigranas certificadas.
As coleções de histórias
A arte de Geny Seixas é arrebatadora e costuma ter o oceano como grande inspiração. As ideias geralmente tomam forma nos desenhos feitos em vários cadernos, que depois são reproduzidos com fios de prata e dão origem a coleções. “Tudo tem uma história”, confidencia a artista. As suas peças preferidas são as da Coleção Mar, com brincos, anel e gargantilha, mas destacam-se também a Coleção Azulejos, inspirada especialmente na fachada da Casa de Pão de Ló São Luís, a Coleção Carnaval de Ovar e a Coleção Ecossustentável, feita com pele de peixe.
Quando Geny pediu às peixeiras da cidade, que trabalhavam nas ruas ou no mercado, para lhe darem as peles de peixe que seriam descartadas, a primeira reação foi de cepticismo. “Elas perguntavam-me: ‘Para que queres o lixo?’ e apenas algumas concordaram”, conta a artesã. Após limpar e tratar as peles de forma natural, sem produtos químicos, em casa, Geny criou uma coleção inovadora e ecológica combinada com filigrana escurecida.
A criatividade de Geny Seixas salta também dos desenhos que preenchem os seus cadernos para se materializar nas aguarelas que ilustram e acompanham as suas joias, bem como nas caixas personalizadas das peças que são entregues aos clientes. Tudo é precioso no caminho desta artesã, que sonha em ser eternamente lembrada pela serenidade, bravura e grandeza, os mesmos atributos que a encantam no oceano que a inspira.
