Uma plataforma sobre o artesanato tradicional e as suas reinterpretações

 

Uma aplicação prática da dissertação “Olhares Criativos: Uma investigação sobre a inovação no artesanato tradicional no contexto das Indústrias Criativas”, produzida por Ana Vasco, no Mestrado de Comunicação e Gestão de Indústrias Criativas

Flup – Universidade do Porto

Celeste Ferreira

Renda de Bilros de Vila do Conde

Celeste Ferreira

a estilista das rendas de bilros de Vila do Conde

Texto e fotos: Ana Vasco

Uma tradição secular pode renascer em mãos desprovidas de heranças tradicionais. Há cerca de 20 anos, a portuense Celeste Ferreira mudou-se para Vila do Conde e, sem qualquer ligação prévia à arte da renda de bilros, encontrou nesta técnica tradicional o alicerce para um percurso inovador no universo das Indústrias Criativas.

Da moda aos bilros

Quando Celeste chegou a Vila do Conde, trazia uma bagagem carregada de experiências com a moda e as artes manuais. Filha de uma modista, desde jovem criou diversas roupas para si própria. Apesar de ser formada em estilismo, habilidosa no crochê e de possuir uma base de conhecimento na área criativa, aprender a trançar os bilros foi um grande desafio. Durante muitos anos, na Escola de Rendas de Bilros de Vila do Conde, aprendeu os pontos, aperfeiçoou os métodos, compreendeu os desenhos e produziu muitos metros de renda para desenvolver a prática. O processo de aprendizado foi longo e exigente, mas a sua determinação permitiu-lhe criar peças únicas e de alta qualidade.

Inovação e Reconhecimento

Com peças e acessórios inovadores, em 2016, Celeste Ferreira realizou a sua exposição, intitulada “Magia dos Bilros”, que reunia vestidos, saias, tops e acessórios feitos em renda, com várias aplicações. A abordagem diferenciada levo-a a expor em outras mostras e a vencer o primeiro lugar no concurso de rendilheiras de Vila Conde com um vestido de renda de bilros.

Reconhecimento e Perda

Cada peça feita por Celeste exige precisão, criatividade e um toque da personalidade da artista em cada detalhe. A venda de uma peça representa tanto o reconhecimento do seu talento e a validação de seus esforços, como a perda de algo profundamente pessoal. Foi assim com o primeiro chapéu feito por ela, totalmente em renda de bilros, que lhe rendeu um prémio de inovação. “Vendi o chapéu e fiquei muito contente, mas ao mesmo tempo senti tristeza, porque tive muitas noites sem dormir por causa dele”, lamenta a artesã. Se fosse algo facilmente reproduzível, a dor da perda não seria significativa. Ao inovar, cada peça feita por ela carrega, além da técnica, a visão e a paixão da artista.

Trabalho, Paixão e Estilo

Muito dinâmica, Celeste não para. Diariamente, dedica cerca de oito horas à criação de novas peças. Até mesmo quando está nas feiras, produz, ao vivo, peças diferentes, enquanto interage com o público. O contacto próximo com os compradores, segundo ela, permite com que adapte-se às preferências dos clientes, crie vínculos, aumente as vendas e eduque os visitantes sobre o valor e a complexidade da renda de bilros.
A paixão de Celeste pela moda e pelas rendas de bilros inspira-a a continuar a criar e a desenvolver o seu próprio estilo. Ela perpetua e revitaliza uma tradição secular, transformando-a numa forma de arte adaptada às exigências e estéticas modernas. Com cada peça, Celeste demonstra que é possível honrar a tradição enquanto explora novas possibilidades artísticas, criando obras que são um verdadeiro tributo ao património cultural e uma afirmação da sua individualidade e visão como artista.

0

Celeste Ferreira

Vila do Conde

+351 915 866 317

error: Conteúdo Protegido - Protected Content
Skip to content